"Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, Até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera;" (Atos 1.1.2)
Após sua ressurreição, Jesus ampliou o escopo da missão dos doze. Eles agora deveriam ir ao mundo todo, começando de Jerusalém até os confins da terra, como testemunhas de sua ressurreição, para fazer discípulos, pregando o arrependimento de pecados a todas as nações, batizando os que cressem e ensinando-os a guardar tudo o que Jesus lhes havia dito. Como havia feito antes, o Senhor lhes confere autoridade e poder espirituais dando-lhes instruções (cf Mt 28.18-20; Mc 16.14-18; Lc 24.44-49). O livro de Atos registra que estas instruções foram dadas pelo Cristo ressurreto como mandamento aos apóstolos por intermédio do Espírito Santo, antes de sua ascensão (At 1.2-3). Examinemos, então, estes componentes da missão apostólica pós-páscoa.
Testemunhas da ressurreição.
Este é um importante aspecto do ministério apostólico. Ter visto Jesus depois dele ter ressuscitado, tornou-se umas das mais distintas marcas dos doze e posteriormente de Paulo.
Quando Pedro e os demais se viram na necessidade de encontrar um substituto para Judas, enquanto aguardavam no cenáculo a chegada do Espírito Santo, determinaram dois critérios para a escolha, a saber, que acompanharam os doze desde o batismo de João até a ascensão, e que tivesse visto o Cristo ressurreto, para poder ser testemunha (At 1.21-22). Este requerimento, de ter visto Jesus após a ressurreição, estava implícito na determinação de Jesus aos doze, “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas...” (At 1.8).
Os fundamentos da Igreja.
O fundamento citado em Efésios 2.20 “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” se refere ao estabelecimento comprovado, pela autoridade apostólica, das verdades centrais da Igreja cristã. Coube aos apóstolos lançar estes fundamentos pela pregação, estabelecimento de igrejas e ordenação de presbíteros para edificarem sobre o fundamento por eles estabelecido. É assim que Paulo descreve seu ministério na primeira carta aos Coríntios: “...lancei o fundamento...e outro edifica sobre ele...” (1Co 3.10-11). O ensino dos apóstolos depois de Pentecostes é denominado de “doutrina dos apóstolos”, na qual a igreja perseverava (At 2.42).
Os escritos apostólicos.
Os Evangelhos foram escritos pelos apóstolos ou por alguém associado a eles, a partir do testemunho deles, como é o caso de Marcos – considerado o evangelho de Pedro – e o de Lucas, baseado no testemunho apostólico, entre outros. No prólogo do seu Evangelho, Lucas menciona a transmissão dos fatos ocorridos entre eles por parte daqueles que “desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1.1-2), uma referência clara aos doze, que seriam os únicos a se encaixar na descrição dos que testemunharam tudo desde o princípio”.
Sinais e Prodígios.
De acordo com Atos, muitos sinais eram operados pelos apóstolos “Muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos “ (At 2.43); “muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At 5.12). Estes sinais eram a comprovação de Deus quanto à veracidade do testemunho apostólico da ressurreição. O autor de Hebreus parece ter tido este mesmo entendimento ao fazer referência aos sinais e prodígios que acompanharam a pregação dos apóstolos: “...dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuição do Espírito Santo, segundo sua vontade” (Hb 2.1-3).
Concessão do Espírito Santo
Outro componente fundacional do ministério dos doze após a ressurreição de Cristo foi incluir samaritanos, gentios e seguidores de João Batista na igreja cristã, a qual, em seu início, era totalmente judaica. Esta inclusão era representada externamente pela concessão a estes grupos da mesma experiência que os apóstolos tiveram em Jerusalém no dia de Pentecostes. Veja Felipe em Samaria solicitando a presença dos apóstolos (At 8-14-16) para tal ato; a casa de Cornélio, durante pregação de Pedro com os gentios (At 10.44-47; 11.15-18); e com o apóstolos Paulo com os discípulos de João Batista (At 19.1-7).
A liderança da igreja de Jerusalém
Fazia parte da missão dos doze, após a ressurreição de Jesus, liderar a igreja em Jerusalém em sua fase inicial. Ela se tornou o centro geográfico do movimento incipiente da igreja cristã. Os doze tinham sede lá e de lá saíam para o trabalho missionário, como Pedro (cf At 9.32). Jerusalém parece ter sido a sede deles durante um bom tempo. De lá enviaram Pedro e João para conhecer o trabalho em Samaria (At 8.14-15). Foi para lá que Barnabé levou Saulo de Tarso, três anos após sua conversão, para apresentá-lo aos doze (At 9.27-28), episódio que Paulo mais tarde citaria em sua carta aos Gálatas (Gl 1.18-19).
A seguir: Por que as características apresentadas até agora são importantes nos dias de hoje?